segunda-feira, 16 de junho de 2008

MC Carminha

Hoje fui ver Maria Carmem. Ou MC Carminha, um dos inúmeros apelidos dados pela legião de médicos, fisios, fonos, enfermeiros à bochechuda bebê de onze meses de idade ou oito meses pela chamada “idade corrigida” – termo usado pelos médicos para chegar à idade real de crianças nascidas antes dos nove meses da gestação. Maria Carmem tem nome forte, e não remete imediatamente à imagem cândida de uma criança, quanto mais à uma prematura que, quando nasceu, aos 6 meses, cabia na palma da mão do médico que a ajudou a começar a sua luta. Primeiro, contra as deficiências do corpo que não teve tempo de crescer e do organismo, cuja engenharia perfeita não teve condições de se desenvolver. A segunda luta é de resistência. Há onze meses na UTI do Einstein, é o caso mais longo de tratamento de um recém-nascido no hospital. Cercada de uma estrutura impressionante, em um quarto decorado com inúmeras cores e tendo à disposição os melhores equipamentos existentes, o que mais me chamou a atenção foi o carinho, a cumplicidade com que todos a tratam. Apesar das cirurgias, infecções e de ser ligada à aparelhos por dois tubos da traqueo e gastro para regular os sistemas respiratório e digestivo, ela se movimenta, brinca, ri, manda beijos, faz careta, chora, assiste vidrada ao Discovery Kids e ainda faz exercícios diários para desenvolver a motricidade. É uma criança normal, linda e iluminada, não fosse o fato de nunca ter visto o sol, nunca ter ido para casa, não se alimentar e respirar sem ajuda de aparelhos e de ter sobrevivido à mais intervenções cirúrgicas, infecções e medicamentos que muitos não acumulam em uma vida inteira. A garra que nem Maria Carmem sabe que tem me comoveu. E continua me comovendo e me obrigando a minimizar tudo o que eu poderia julgar importante, sério ou problemático. Maria Carmem ainda está aprendendo a magia das palavras, mas me disse muita coisa hoje. Coisas tão lindas e tão profundas que se resumem no que é essencial: o importante é a vida. O resto a gente inventa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ai amiga... Quase chorei!

bj

Anônimo disse...

Você é mesmo uma coisa, dona Karina. Que todas as flores se abram em nome de tudo o que lhe emociona. A começar por Maria Carmem.

Beijos.

Franz.