domingo, 31 de agosto de 2008

Nem foi tempo perdido.


"Veja o sol dessa manhã tão cinza

A tempestade que chega é da cor dos seus olhos."

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Para bom entendedor.

Se tem uma coisa que eu acho interessante nos meus ensaios de dança contemporânea são as as metáforas que a professora usa para marcar as coreografias. Em uma passagem de chão ontem recebi a seguinte instrução: “enrola no solo como bife à milanesa preenchendo cada cantinho de farinha”. É engraçado, mas funciona. Fantasiando a tal cena, de fato me lembrei de encostar as várias extremidades do corpo, desde os dedos, tornozelos, costas, e todo o resto que não seria alcançado em um rolinho rápido pelo chão. Outro dia ao ensaiar uma entrada bem lenta e poética, fomos instruídas a “buscar um cesto de cravos no chão, erguer acima da cabeça e despejar cuidadosamente pelo corpo, sentindo cada pétala escorrer pelo colo, barriga, braços e pernas”. Se não trouxesse à memória esta sensação, certamente o movimento não seria tão completo e cheio de significado. Depois da dança, comecei a valorizar muito a linguagem não verbal, aquela que o corpo expressa sem precisarmos emitir uma só palavra. E agora tenho percebido com mais cuidado a riqueza da linguagem metafórica, aquela que até Jesus Cristo fez bom uso. Eu não gosto de falar pouco, gosto de falar o que é necessário, mas às vezes até pro bom entendedor a meia palavra não basta. Como não vou deixar de acreditar que as poucas palavras são inundadas de mais verdade que os discursos mais elaborados, passarei a me dedicar aos ensaios de analogias para dizer tudo com clareza sem abandonar a beleza do que precisa ser entendido.

domingo, 24 de agosto de 2008

Sempre em frente.

Amanhã, após um ano de separação de fato, assinarei a minha separação de direito. E passei o dia de hoje renovando a minha fé no casamento e na família para que eu nunca me esqueça que esse projeto ainda vale a pena. Tenho um lindo exemplo na minha casa, onde as relações são construídas para serem eternas, com amor, humor, cumplicidade, desejo e projetos comuns. Aprendi cedo que somos individuais, mas é possível sonhar junto. Não é uma fórmula difícil. Mas tenho percebido que quanto mais testamos a nossa capacidade e exaltamos a nossa inteligência, mais achamos que devemos emprestar à vida alguns modelos que só a deixam mais complexa e nos afastam do que queremos onde ninguém consegue ver além de nós mesmos. Eu aposto na simplicidade. E acho que devemos deixar a vida acontecer, sem medos, sem restrições, para que o destino nos presenteie com surpresas blindadas à racionalidades, traumas, modismos, e todas estas linhas de pensamento que pregam que ninguém é de ninguém, que somos auto suficientes e que os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus. Bonito no papel, mas até que as viagens intergalácticas sejam mais acessíveis, o fato é que estamos juntos neste mesmo planeta e precisamos aprender a nos amar por aqui mesmo. Eu vou continuar tentando :-)

Eu médico, eu monstro.

Tenho certeza de que você vai concordar comigo: até a maior das unanimidades não será ok todos os dias. Temos um sem número de motivos que vão desde sentimentos reprimidos, medo, vergonha a disfunções hormonais que nos fazem, às vezes, nos afastar de quem realmente somos ou queremos ser. Eu já não me reconheci algumas vezes, e por vários motivos. Já dei resposta atravessada, mandei mal, fui dura, mau educada, injusta, tive ciúmes, inveja branca, desejei o que não podia, disse o que não queria, neguei vários nãos e insisti em sims que saíram meio sem querer. Por saber que não podemos ler uma pessoa por uma única atitude é que tenho um tremendo cuidado em julgar as pessoas. E quando o faço, evito que seja publicamente. Lembrei disso por dois fatos ocorridos essa semana: um foi uma conversa muito honesta com uma pessoa do meu relacionamento profissional de quem gosto muito mas com quem enfrento algumas dificuldades de entendimento. Tive que tecer cada detalhe dos diversos motivos pelos quais possivelmente eu não atendia as expectativas que esta pessoa esperava. Em linguagem popular, lavamos a roupa suja e disse claramente que, sim, eu não sou perfeita, estou pronta para aprender a ser melhor, mas que era preciso me julgar pelo meu repertório e não por duas ou três atitudes que soaram desagradáveis. O outro fato foi uma atividade de grupo promovido pela minha empresa onde estudamos as personalidades e estados de humor de cada um para que possamos nos compreender melhor e ajudar a trabalharmos melhor como equipe. E um dos pontos que me chamou a atenção foi um termo que usaram como “índice de oqueidade”. Por exemplo, na teoria das cores, sou vermelha, colérica, enérgica, dinâmica, independente, confiante, voltada para a execução. Em tese, é bastante positivo, e mostra que podem contar comigo porque vou fazer acontecer. Mas em dias não ok, eu posso ser agressiva, mandona, um trator. E posso não me adaptar aos dias ok dos amarelos que são expansivos e brincalhões, dos verdes que são humanistas e cuidadosos e dos azuis que são analíticos e organizados. É nessas horas que me dou conta que as relações humanas são de uma complexidade sem fim, e que alguns dias somos médicos e em outros somos monstros. É óbvio que a maturidade a experiência e os tapas que a vida dá nos farão ser mais médicos a cada dia, mas não tenho dúvida de que só a vivência nos aproximará deste ideal. Não há receita. Apenas força de vontade e paciência para que, como costuma dizer uma pessoa do meu coração, o tempo seja o melhor autor.

Eu hoje, eu amanhã.

Vivo dizendo que a vida vem em ondas: às vezes vibramos na crista, às vezes nos afogamos na base. Faz parte. Quando as coisas não vão bem costumo investir tempo em pensar como aproveitar quando a bonança chegar. Também creio nos sábios e santos quando já diziam que não há mal que dure para sempre, nem há cruz tão pesada que não consigamos carregar. Mas, ansiosos que somos, queremos sempre adivinhar quando um ciclo termina para outro começar. Eu mesma no meu julho tenebroso fiquei aflita porque aquele olhar pro infinito não combinava comigo e eu queria me ligar na tomada de novo. E aí, num ato totalmente incomum para mim, comecei a espiar as colunas de astrologia das várias revistas que recebo. Apesar de ser bastante ignorante no tema, tenho convicção de que se trata de uma ciência, baseada em números, evidências, etc, mas confesso nunca levei muito a sério. E como geralmente as citações são bem genéricas como “a lua cheia chegará com boas novidades que sacudirão as suas angústias”, para mim soava como um consolo bom de ouvir, mas difícil de acreditar. No entanto, uma das revistas me chamou a atenção pelo nível de especificidade que arriscou: “no dia 16 de agosto, na entrada da lua cheia, você reencontrará um amor do passado que renascerá das cinzas e te confirmará se a decisão de vivê-lo, ou não, foi acertada”. Li isso lá pelo dia 03 de agosto e dia ou outro eu lembrava do que me os astros me reservavam para o dia 16. Bem, o dia 16 chegou, passou e eu só fui lembrar da tal previsão dois dias depois. Lembrando das ocorrências do dia 16: foi realmente um dia beeem agitado como há meses eu não experimentava, e que eu vivi com toda a intensidade, pois era sábado e encontrei casualmente várias pessoas desde a noite de sexta até a madrugada de domingo, que vão de um ex-namorado, uma ex-paixonite até amigos queridos que não via há tempos e sobre os quais nunca cogitei ter um encontro amoroso. E só. Nada de avassalador aconteceu. Se acontecerá algo relacionado à algum desses encontros, só o futuro dirá, mas entendi que mesmo a mais específica das previsões ainda pode estar à mercê de muitas interpretações generalistas.

Quem de nós.

Emprestei o título do livro que estou lendo à este post para recomendar a linda obra do autor uruguaio Mário Benedetti, que retrata o triângulo amoroso entre os amigos de infância Miguel, Alicia e Lucas. É uma história de amor que mostra em um texto brilhante a dureza da realidade do sentimento vivido por Miguel, o vértice mais frágil da relação montada pela sua descrença quanto à verdade da escolha de Alícia, que se tornou sua esposa, e a eterna desconfiança do desejo dela por Lucas. O texto é forte e delicado, e apesar de mostrar o aspecto sombrio do ciúme, não abandona a pureza e a força de um grande amor. Comprei o livro por adorar autores latinos e por ter sido impactada pelo texto de contracapa, que faz parte do desabafo de Alicia em um dos capítulos e mostra um pouco do estilo literário que gostaria de recomendar à vocês:

“Incorremos em vários erros, mas acho que o nosso grande equívoco, o mais irremediável, foi nunca falar sobre eles. A única fraqueza possível, aquela que possui a maioria dos casais que diariamente se insulta, almadiçoa e desfruta por igual de suas etapas de ódio e apaziguamento, foi isso que perdemos. Eles estão constantemente atualizando a imagem do outro, sabem reciprocamente a que se ater, mas nós estamos atrasados, você em relação à mim, eu em relação à você.”

Voltei.

Julho foi um mês estranho. Somatizei a poderosa reação de três acontecimentos que me tiraram o chão e me entreguei à uma onda de tristeza e melancolia, depois de meses e meses da mais completa euforia. Os dias foram passando e inconscientemente fui acrescentando mais e mais tempo aos meus antes poucos momentos de solidão. Depois fui abatida por uma suave tristeza. Tão leve que não houve quem desconfiasse de qualquer mudança no meu estado de humor. Coincidentemente usei muito do tempo para me dedicar à horas extras de estudo, o que foi um álibi irrefutável para qualquer possível questionamento sobre a minha ausência em compromissos aos quais eu era não perderia por nada. Tive uma extrema vontade de encontrar o nada, de ver infinitos, de sentir o vazio. Não renovei os meus playlists, não atualizei o meu blog e evitei testemunhar o dia-a-dia dos amigos para que a minha absoluta falta de vontade de ter alguma opinião não soasse indelicado. Viajei por perto e fui muito longe. Tirei mini-férias e dirigi sozinha alguns muitos quilômetros entre litoral e interior só pelo prazer de mudar as cenas da paisagem e a necessidade de sincronizar o pensamento e o sentimento. Fui pra Ilhabela, Paraty, Serra Negra, Vinhedo e Atibaia e pensei em Brasília, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Chorei, ri e vivi a tentativa de voltar à mim aos poucos, redescobrindo os caminhos e juntando os pedacinhos de uma história que não consigo lembrar como perdi.