quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Para bom entendedor.

Se tem uma coisa que eu acho interessante nos meus ensaios de dança contemporânea são as as metáforas que a professora usa para marcar as coreografias. Em uma passagem de chão ontem recebi a seguinte instrução: “enrola no solo como bife à milanesa preenchendo cada cantinho de farinha”. É engraçado, mas funciona. Fantasiando a tal cena, de fato me lembrei de encostar as várias extremidades do corpo, desde os dedos, tornozelos, costas, e todo o resto que não seria alcançado em um rolinho rápido pelo chão. Outro dia ao ensaiar uma entrada bem lenta e poética, fomos instruídas a “buscar um cesto de cravos no chão, erguer acima da cabeça e despejar cuidadosamente pelo corpo, sentindo cada pétala escorrer pelo colo, barriga, braços e pernas”. Se não trouxesse à memória esta sensação, certamente o movimento não seria tão completo e cheio de significado. Depois da dança, comecei a valorizar muito a linguagem não verbal, aquela que o corpo expressa sem precisarmos emitir uma só palavra. E agora tenho percebido com mais cuidado a riqueza da linguagem metafórica, aquela que até Jesus Cristo fez bom uso. Eu não gosto de falar pouco, gosto de falar o que é necessário, mas às vezes até pro bom entendedor a meia palavra não basta. Como não vou deixar de acreditar que as poucas palavras são inundadas de mais verdade que os discursos mais elaborados, passarei a me dedicar aos ensaios de analogias para dizer tudo com clareza sem abandonar a beleza do que precisa ser entendido.

4 comentários:

Anônimo disse...

Kao, achei que isso era um recado... rs

Eu tbm adoro as metáforas pq é aquele recadinho sutil quando a gente quer falar sem causar.

Amanhã a gente se vê

beijokas.

Anônimo disse...

Gostei muito disso. Queria ver você dançar de novo e entender melhor essas metáforas ..... risos.


beijão!

Saulo '''

Luciana Andrade disse...

Métaforas são sempre bem vindas e sempre dizem muito quando faltam palavras...

l. disse...

Gostei desse texto como o solo umidecido gosta do farfalhar das folhas secas numa tarde de outono. :D